Julho 2021
Aproveite sua máscara para abafar esse cheiro
Nesta edição trazemos a vocês “As Cavernas de Caca”, escrito por Willy Alencar;
Além do artigo escrito por Cordeiro na sua primeira edição do Cordverso.
CordsVerso #1
Saudações amigo e amiga da Cripta RPG!
Meu nome é Lucas Cordeiro, e essa é a minha Coluna: CORD.VERSO. E hoje trago para vocês a estreia do meu primeiro texto para a Papo de Quimera:
Por que criamos cenários?
Meu intuito é compartilhar um pouco das minhas ideias de criação de universo para jogos e refletir porque gostamos de expor as nossas visões megalomaníacas em criações.
Sempre fui aquele jogador/mestre que nunca seguiu as regras com fidelidade rsrs. Lia livros de fantasia ou ficção e sempre queria aplicar as novidades que conhecia em meus cenários próprios. Bom, criar e gostar de criar é natural do ser humano, chegamos até onde estamos por conta dessa capacidade de transformar ideias em realidades.
Não vou criar regras ou instruções de como elaborar um universo, acredito que o nascimento de um cenário deve vir de um pensamento espontâneo e, posteriormente, bem refletido. Vou apenas mencionar como gosto de organizar as minhas ideias para que não falte nada que eu goste.
Primeiro gosto de pensar na temática e que novidades ou coisas estranhas posso aplicar nela, por exemplo: a boa e velha história medieval. Existem inúmeras aventuras nesse período, algumas sombrias, outras realistas e até as mais próximas a contos de fadas, mas o que você, como mestre, pode trazer de diferente?
Não há problemas em reviver histórias antigas como guerras entre famílias ou um mal que assola o mundo, na verdade essas premissas são um ótimo começo. As literaturas revivem e reutilizam esses conceitos a todo o momento, mas cada uma com sua particularidade. As Crônicas de Gelo e Fogo trazem um fantasia “baixa” com foco em intrigas políticas e a desmoralização de personagens, já Duna traz novamente a intriga política, mas agora a economia do universo depende de um único produto e há um escolhido profetizado para liderar o povo. Toda novidade aplicada ao cenário é uma textura que o diferencia dos demais, então amplie seu conhecimento em referências e transforme.
Depois penso no meio-ambiente, a temperatura de cada região, os cheiros, o solo, a fauna e a flora, ou a falta delas, como seriam as cidades e do que seriam feitas, quais as possibilidades de dungeons, problemas ambientais, e etc. Nessa parte apelo para as referências audiovisuais, vejo muitos filmes ou animações da temática que quero mestrar. Gosto de procurar por contrapontos como Akira e Blade Runner. Ambos mostram uma 2019 CyberPunk com diferentes visões, cores e texturas. Blade Runner traz um futuro oitentista, em uma Los Angeles chuvosa, com replicantes entre humanos, corporações no poder e a poluição visual dos anúncios de marcas, produtos e colônias de fora da terra. Akira aborda um mundo pós-guerra atômica, onde gangues com motos tecnológicas dominam as ruas de Neo Tóquio, o governo é militarizado e tem projetos secretos envolvendo mutações genéticas.
Em terceiro lugar precisamos preencher a história do seu novo universo. Mesmo em jogos de RPG com cenários pré-históricos, o mundo já existia antes dos jogadores, então lendas e fatos históricos pintam o desenho que você esboçou. A Terra Média por duas vezes foi dominada por um Senhor do Escuro, e mesmo com ambas as premissas e os finais iguais, a aventura e o cenários foram diferentes em seu tempo, pois os fatos que guiaram os personagens surgiram antes deles, ou foram criados por ou para eles. Guerras, doenças, revoluções ou até um período de paz formam as pessoas que vivem e transformam o seu cenário.
E por falar em pessoas, as vidas que habitam o mundo é o último ponto em que penso, pois é o mais complexo e amplo. São elas que contam as histórias, que constroem os lugares, que interagem com os personagens, e que trazem individualidades para cada ponto do mapa. Você pode criar regiões em que religiões disputam espaços com o comércio, mas o calor do embate só é real quando as pessoas demonstram como isso é verdadeiro para elas.
Para resumir, vou aproveitar e fazer um jabá. Quando criei o Sertão Morto pensei em fazer um mundo pós-apocalíptico, mas queria fugir do conceito trazido por Mad Max, que outros cenários brasileiros seguiam, então apostei no radioativo. A ideia não saiu da forma que desejava e após reformular várias vezes, levei o cenário para um fim do mundo resultante da poluição extrema, até o ponto da terra parar ap meio-dia. Depois (não segui meus passos rsrs), criei os personagens, estava empolgado com a ideia de Cangaceiros queimados pelo Sol contra Seres Subterrâneos que fogem da poluição como vampiros fogem do alho. Nesse caso, a história do mundo surgiu a partir dos personagens e das lendas que criei para eles.
Essas são minhas dicas de hoje. Muito obrigado por ter lido até o final! E para aproveitar, vou copiar o Azaghal do Jovem Nerd e farei uma pergunta no final:
Qual seu cenário favorito dentre os que criou?
Mande a resposta no e-mail e iremos compartilhar na próxima revista. Até Breve, Vida Longa e Próspera.
Recomendações:
- Algo para Ler: O Nome do Vento, terminei há pouco tempo, o livro é excelente, nunca fui fã de personagens fodões, mas a quantidade de aventuras contadas embelezam essa história.
- Algo para Assistir: Samurai Jack, é um ótimo exemplo de misturas para um universo único.
- Algo para Jogar: CloudPunk, zerei em um 1 dia, valeu cada centavo. Dirigir carros voadores é sempre bom.
- Algo para Ouvir: Tuatha de Danann, banda brasileira clássica, sempre bom para as sessões medievais.
*Estão disponíveis dois arquivos. Um de maior qualidade e outro mais leve.