Pulp pode ser traduzido literalmente como “polpa”, e quer descrever o material do qual era feito o papel das revistinhas baratas do início do século XX nos Estados Unidos.
É uma definição que não poderia ser menos descritiva, então sejamos mais claros. As revistas pulp foram a febre que inaugurou a cultura pop. Eram revistas baratas, que vendiam como água, e eram consumidas pelas classes mais baixas, e por isso considerada literatura de quinta categoria.
Pelo seu estrondoso sucesso, e por estarem sendo publicadas cultural de alguns dos maiores, como Hugh Hefner (o maldito criador da Playboy), Alan Moore, Isaac Asimov (que também foi um escritor tardio de literatura pulp), e é claro, Gary Gygax, criador do RPG.
Essa informação não é trivial. Quando nós pensamos em RPG de fantasia, qual referência nos vêm à cabeça? Provavelmente Senhor dos Anéis, certo? Acontece que essa influência parece ter sido muito menos central para a geração do RPG do que se pensa.
Primeiro, se dermos uma olhada no Appendix N (o índice de referências literárias do D&D), veremos que a obra de Tolkien não parece ocupar nenhum lugar de destaque em meio a outras dezenas de obras literárias menos conhecidas, ou completamente desconhecidas.
Segundo, Gygax escreveu um artigo para uma revista nos anos 90, falando sobre suas influências
“Além de Howard, que já mencionei, há nomes como Poul Anderson, L. Sprague de Camp e Fletcher Pratt, Fritz Leiber, HP Lovecraft, A. Merritt, Michael Moorcock, Jack Vance e Roger Zelazny - há muitos mais, e a omissão de seus nomes aqui é mais um descuido meu do que uma negligência. Na criação de Chainmail e Dungeons & Dragons, os conceitos de não poucos desses autores foram utilizados.
Tolkien inclui várias figuras heróicas, mas elas não são como um "Conan". Não são espadachins gigantescos que não temem nem criaturas, nem magias. Seus magos são ineficazes ou se escondem em suas fortalezas realizando feitiços que parecem ter pouco ou nenhum efeito, enquanto seus asseclas estúpidos e grosseiros arruínam seus planos de supremacia. Ele também não inclui religião com seus deuses e sacerdotes.
Pegue várias das figuras heróicas de Tolkien, por exemplo. Um participante de um jogo de fantasia se identificaria mais prontamente com Bard de Dale? Aragorn? Frodo Bolseiro? ou preferiria se relacionar com Conan, Fafhrd, o Gray Mouser ou Elric de Melnibone? A resposta parece muito óbvia.”
Entendendo isso, você entende um pouco sobre a própria dinâmica de uma partida de RPG. Entende por que os magos soltam bolas de fogo, por que os heróis lutam por moedas de ouro, e por que há essa fixação por Masmorras.
É a influência da literatura pulp!
Com as edições seguintes, esse forte caráter pulp do RPG foi se diluindo. A 3a edição, lançada em conjunto com a febre dos filmes do Senhor dos Anéis por Peter Jackson serviu para ocultá-la de vez, e inaugurou esse espírito mais heroico que conhecemos bem.
Por fim, se você quer deixar a sua aventura de RPG medieval mais pulp, e menos épica, listo aqui alguns princípios.
O reino às vezes importa menos do que o destino do seu tesouro.
Os personagens nem sempre são heróis
Os enredos não são necessariamente refinados, e às vezes podem até soar ingênuos.
Os monstros e as situações não precisam fazer sentido.
A ação começa rápido e sem rodeio.
Até a próxima.